domingo, 27 de julho de 2014

AS CAROLAS DO POLITICAMENTE CORRETO CONTRA A TURMA DA MÔNICA

Vocês devem lembrar-se da D. Dorotéia, interpretada divinamente por Laura Cardoso, do romance Gabriela de Jorge Amado, transformado em filme e em telenovela. D. Dorotéia foi a personificação das carolas da primeira metade do século XX, em um país marcadamente católico como o Brasil. Era a figura da senhora conservadora que pregava sempre a moral e os bons costumes para qualquer um que saísse dos rígidos moldes da tradição religiosa da qual ela era devota fervorosa. A pureza de D. Dorotéia era cruel, sua moral sobrepujava até seus laços de amizade, como ficou evidente quando a personagem denunciou sua companheira de devoção, Sinhazinha, por adultério para o marido (o que redundou no assassinato de Sinhazinha pelo marido, Cel. Jesuíno).

 Já nos dias atuais, surge uma nova estirpe de carola, mas, desta vez, elas trazem uma nova roupagem moral: o politicamente correto. Não obstante, a carolice permanece a mesma, sempre querendo enfiar seus valores morais goela abaixo da sociedade. Alguns fatos recentes divulgados pela mídia podem ajudar a identificar o tipo. Comecemos pelo patético caso da resolução do Conselho Nacional dos Direitos das Crianças que prevê a proibição de qualquer publicidade em TV aberta destinada ao público infantil.

É claro, a intenção das carolas do CNDC é a mais bela de todas: proteger as crianças do malvado mundo do consumo para torna-las “adultas mais conscientes” no futuro (para elas, “consciente” é sinônimo de “ser companheiro de devoção”). Nem mesmo na época em que a censura era explícita (hj é velada), passou pela cabeça de alguém inviabilizar produções artísticas como as da Turma da Monica. Hoje, a Turma da Monica está sendo censurada e corre o risco até de ter de encerrar suas produções. Ora, como vc deve saber, a Maurício de Souza Produções, assim como a Disney, sobrevive de publicidade e da associação de seus personagens a uma infinidade de produtos destinados ao público infantil. Na última páscoa, assistimos ao grotesco caso dos Ovos de Páscoa Bis que foram retirados das prateleiras, pois, supostamente, incentivavam o bullying. - A embalagem falava em “sacanear” amigos. Ainda no campo dos ovos de chocolate, o que dizer da proibição imposta ao kinder ovo, que não poderá mais vir acompanhado de brinquedos? Há sempre uma justificativa moral para essas proibições, as carolas sempre falam em “bem estar da criança e do adolescente”, “obesidade infantil”, “bullying”, sempre na melhor das intenções de proteger as crianças. Na Europa, até mesmo a Peppa Pig está sendo acusada de incitar a insubordinação das crianças e de transmitir “mensagens subliminares”. Em momento nenhum de minha vida eu imaginei que pudéssemos chegar a este patamar de censura social. O que as nossas carolas de hoje estão conseguindo é, além de sufocar um segmento econômico, ditar o aniquilamento da programação infantil na TV aberta. Mas não é só isso, por trás dessas “boas intenções” está a investida do Estado contra a autonomia das famílias em educar suas crianças, contra o direito dos pais de decidirem o que é bom ou não para seus filhos.

 Tal qual D. Dorotéia, a moral das carolas é seletiva e parece não seguir nenhum senso de hierarquia. Ao delatar Sinhazinha, D.Doroteia sabia que estava sentenciando-a, no entanto, em vez de colocar o resguardo da vida da amiga acima de qualquer coisa, ela preferiu penitencia-la com a morte, sem dar-lhe a chance do arrependimento. Para D.Dorotéia, o adultério é mais condenável do que o assassinato. Nossas carolas de hoje alegam que a liberdade é sagrada, se dizem as verdadeiras portadoras dos valores democráticos, mas, diante do dogma que diz que consumir é pecado mortal, as carolas do politicamente correto não se importam em assassinar a primeira sob a justificativa do segundo.

Ao final do romance, a identidade de D. Dorotéia é revelada: ela era, na verdade, uma devassa que fazia miséria nas noitadas de Ilhéus, conhecida pela boemia como Dodô Tanajura (em referência aos glúteos avantajados). D. Dorotéia, na verdade, condenava tudo aquilo que, em essência, a caracterizava, mas que não podia mais desfrutar há muitos anos devido ao caminho que, por algum motivo, ela escolheu seguir deixando para trás o que lhe dava prazer. D. Dorotéia condenava aquilo que era espelho, um espelho que trazia à tona sua real condição existencial. As carolas do politicamente correto são assim tb: falam em nome da liberdade e contra o fascismo, mas, no fundo, estão apenas condenando aquilo que dizem defender e acusando os demais de serem o que elas gostariam de ser: fascistóides ditadores de regras. Enfim, o que tem de Dodô Tanajura se achando D. Dorotéia não é brincadeira...


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